A arte também pode ser a execução prática de uma ideia, saber ou perícia em usar os meios para atingir um resultado. Quando decidimos fazer terapia, executamos uma ideia e lentamente vamos construindo a arte do bem viver.
É um processo de construção e reconstrução, no qual situações, até então depositadas no recôndito da nossa psique, afloram proporcionando alívio, novas ideais e comportamentos acerca do conteúdo que está sendo tratado.
Nos tornamos o artista que pode atuar no palco da sua própria vida, com direito a escolher um novo script, uma vez que o antigo não esteve, até então, programado para nos fazer feliz. O terapeuta, esta ao lado, auxiliando e amparando, ao mesmo tempo usando a técnica e o vínculo para que os resultados contratados e esperados sejam atingidos.
Os conflitos vividos com nossos pais, editam nossa história pregressa, os cônjuges, filhos e amigos compõem nossa história atual e são todos eles o cenário da nossa existência, mas é na história pregressa que encontramos o determinante que edita as atuais decisões e comportamentos do aqui e agora.
Tudo que vimos, ouvimos e sentimos, quando ainda éramos uma criança, foi muito verdadeiro, ao mesmo tempo que foram impressões vividas por um ser em tenra idade. Portanto, este serzinho entendeu do jeito como uma criança compreende as coisas. Esta compreensão é cheia de limitações, uma vez que, o aparelho psíquico, ainda está em formação.
Diante deste quadro que é real, mas que também é recheado de fantasias, se dá o desenvolvimento infantil pelo qual todos nós passamos um dia. O que lá atrás foram os sentimentos da criança é verdadeiro e inquestionável, pois sentimentos não se questionam. Porém, recompondo o cenário que está sendo trazido, observamos e entendemos os fatos, com a compreensão do hoje, quando não somos mais crianças. E dentro deste olhar, do adulto que somos hoje, percebemos o encantamento das situações vividas pela criança que fomos um dia, podendo acolher aqueles sentimentos, frustrações e desamparo. A medida que o tempo passa, somos os responsáveis pelo que nos acontece e desta forma, podemos decidir viver sem as amarras da inconsciência.
Quando temos consciência do que provocou dor no passado, o que sentimos e como lidamos com aquelas situações, podemos decidir por não agir mais da mesma forma. Temos autonomia, consciência e liberdade psíquica para lidar com os nossos desejos e propósitos de forma atualizada, na realidade do que vivemos hoje. Quanto mais nos conhecemos mais plenos estamos para andar pela vida de forma a perceber a magia que envolve estar vivo.
A magia está em pequenas coisas, por exemplo, quando podemos ingerir os alimentos paulatinamente, percebendo e nos deliciando com o sabor dos mesmos, ou mesmo o acolhimento e o respeito pelo outro, mesmo que ele pense diferente de nós, ou ainda, o olhar mágico de uma criança que nos conduz ao afeto e a ternura. O fato de desfrutar estar em férias sem sentir culpa por isto, apreciando e tendo consciência de estar vivo e que a vida passa muito rápido.
Enfim, quando desfrutamos de tudo aquilo que simplesmente a vida oferece.
Alimentar o despertar da consciência faz a vida ficar criativa, em vez de reativa, uma posição infinitamente cheia de arte, magia e poder.